Enquanto eu tiver perguntas e não houver respostas... continuarei a escrever Clarice Lispector

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Não há...

Não há alegria sem dor.
Não há amor sem amargor.
Não há ano, afinal, que não tenha o seu natal.
Não há cabeças mais duras que as cabeças vazias.
Não há coisa mais leal que o coração.
Não há como a mulher para fazer do homem quanto quer.
Não há como um dia depois do outro.
Não há conta que não se pague.
Não há direito a que não corresponda um dever.
Não há espirituoso a quem não vença o discreto.
Não há fome que não traga fartura.
Não há fumaça sem fogo.
Não há gosto sem desgosto.
Não há homem feliz sem mérito, nem infeliz sem culpa.
Não há homem sem nome, nem nome sem sobrenome.
Não há ladrão sem o santo de sua devoção.
Não há louco sem acerto, nem sábio sem loucura.
Não há luar como o de janeiro, nem amor como o primeiro.
Não há maior louco do que o que tem obrigação de ter juízo.
Não há maior surdo do que aquele que não quer ouvir.
Não há maior tolice que viver pobre para morrer rico.
Não há mal que um bem não traga.
Não há mal que o tempo não cure.
Não há mal que sempre dure.

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